sexta-feira, 27 de dezembro de 2019


Com vista para o mar...


A noite foi caindo devagarinho e encontrou-nos abraçados naquele alpendre. Unidos ainda pela ternura de um momento a dois, exaustos pela intensidade de um ato louco e intenso que só acontece quando a paixão explode. Envolvida nos meus braços, sentindo a tua pele colada à minha, o mundo parecia não mais existir além daquele pequeno lugar onde o cheiro do mar se misturava e perfumava o ar... Arrepiaste-te e num gesto protector, envolvi-te com mais força. Não falamos sobre o que tinha acontecido. Apenas ficamos ali, olhando o infinito, cada qual perdido nos seus pensamentos.

Queria muito saber o que estavas a sentir naquele momento, o que estaria a passar pelo teu pensamento. Mas não ousei perguntar. Tive medo de quebrar aquela magia. Esse momento era apenas meu. Apertei-te com mais força e com toda a ternura do mundo voltaste a beijar-me. Já não havia aquela paixão, aquele desejo que nos queima a pele, a ansiedade de possuir. Era um beijo doce, cheio de carinho que nos conforta a alma e cala os nossos medos. Não havia arrependimento... Amanhã seria outro dia, mas este momento, de alguma forma, tatuou-se em nossas almas e intensificou o carinho que sentia-mos um pelo outro...

O sol deitou-se no mar. Estava na hora de partir. Deixamos aquela casinha e o seu alpendre com vista para o mar sem sequer olhar para trás. De volta ao carro, o silencio tomou conta do espaço. Não sabíamos o que dizer, como o dizer... As minhas emoções estavam num turbilhão que me deixavam tonto. Queria gritar os meus sentidos, mas sei que não podia, não devia... Afinal o silencio, era o nosso porto de abrigo. É o momento em que as almas se tocam e se perdem da realidade. Pensei em regressar, já era tarde e lá fora, o mundo não parou de girar..., mas parei o carro perto do areal. Saí sem nada dizer e abri-te a porta convidando-te a sair. Agarrei a tua mão estendida e seguiste os meus passos...acho que nesse instante eras capaz de me seguir até ao fim do mundo!!

Caminhamos algum tempo, olhando a noite envolver o mar. Sentia os teus dedos entrelaçados nos meus, apertando-os de vez em quando com mais força. Sentia-te tão ligada a mim, e eu tão preso em ti... O silencio não nos atormentava. O mar entoava uma canção baixinho e a natureza parecia querer adormecer envolvendo-nos num abraço que nos afastava de tudo, menos de nós os dois...

Sem nada dizer, abracei-te e de novo senti toda a doçura dos teus lábios envolver-me. A tua língua invadiu a minha boca com ternura. O meu corpo já te conhecia, já sabia de ti, já te tinha gravado em todos os sentidos. Envolveste-me o pescoço com os teus braços e deixamos que aquele beijo se aprofundasse, se fizesse mais intenso... Colei o meu corpo ao teu e de novo todo o desejo gritou por cada poro da minha pele. O teu corpo é um iman que me atrai. Sei que te pertenço e que não tenho como fugir aos sentimentos que me invadem a alma.

Caímos de joelhos na areia húmida pelo orvalho da noite e a pressa de novo tomou conta dos nossos movimentos. Ajoelhados na praia deserta, envolvidos pela noite, bocas coladas e abraços apertados, parecíamos uma estátua oferecida ao luar. A imagem dos apaixonados trocando um beijo infinito como infinito é cada momento contigo. O desejo tomou conta dos nossos sentidos, mas estava na hora da despedida. O tempo que foi nosso tinha acabado e era preciso acabar com o sonho que nos tinha envolvido por algumas horas... Não foram precisas palavras... Levantei-me e segui o meu caminho sozinho rumo à realidade de todos os dias... Mas não fui sozinho porque comigo, levava parte de ti. A saudade de ti...e um momento para te recordar.

Que a noite embale os teus sonhos e que neles, possas encontrar um pouco dessa magia com a qual pintas a minha alma!

SonsCalados